quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Invisibilidade social: eu sei o que é isso

Vou postar um texto que recebi por e-mail. Muito interessante pois vejo que esta pesquisa cientifica é abrangente a ponto que os imigrantes que vivem na Itália a compreende muito bem. Somente para contextualizar: ao invés das ruas da USP pense na Itália e, ao invés dos garis, pense nos imigrantes que vivem na Europa, extensivamente, na Itália. Pronto, o resumo da opera é o mesmo.


O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE
'FINGI SER GARI POR 8 ANOS E VIVI COMO UM SER INVISÍVEL'


Foto de Francisco Rangel. Retirada daqui.

Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'. Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social. Plínio Delphino, Diário de São Paulo.O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali,constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde enxerga-se somente a função e não a pessoa. Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida: 'DESCOBRI QUE UM SIMPLES BOM DIA, QUE NUNCA RECEBI COMO GARI, PODE SIGNIFICAR UM SOPRO DE VIDA, UM SINAL DA PRÓPRIA EXISTÊNCIA', explica o pesquisador.O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano. 'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes,esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão',diz. Apesar do castigo do sol forte, do trabalho pesado e das humilhações diárias, segundo o psicólogo, são acolhedores com quem os enxerga. E encontram no silêncio a defesa contra quem os ignora.

Diário – COMO É QUE VOCÊ TEVE ESSA IDÉIA?
Fernando Braga da Costa - Meu orientador desde a graduação, o professor José Moura Gonçalves Filho, sugeriu aos alunos, como uma das provas de avaliação, que a gente se engajasse numa tarefa proletária. Uma forma de atividade profissional que não exigisse qualificação técnica nem acadêmica. Então, basicamente, profissões das classes pobres.

Diário – COM QUE OBJETIVO?
A função do meu mestrado era compreender e analisar a condição de trabalho deles (os garis), e a maneira como eles estão inseridos na cena pública. Ou seja, estudar a condição moral e psicológica a qual eles estão sujeitos dentro da sociedade. Outro nível de investigação, que vai ser priorizado agora no doutorado, é analisar e verificar as barreiras e as aberturas que se operam no encontro do psicólogo social com os garis.

Diário – QUE BARREIRAS SÃO ESSAS, QUE ABERTURAS SÃO ESSAS, E COMO SE DÁ A APROXIMAÇÃO? QUANDO VOCÊ COMEÇOU A TRABALHAR, OS GARIS NOTARAM QUE SE TRATAVA DE UM ESTUDANTE FAZENDO PESQUISA?
Eu vesti um uniforme que era todo vermelho, boné, camisa e tal. Chegando lá eu tinha a expectativa de me apresentar como novo funcionário, recém-contratado pela USP pra varrer rua com eles.. Mas os garis sacaram logo, entretanto nada me disseram. Existe uma coisa típica dos garis: são pessoas vindas do Nordeste, negros ou mulato sem geral. Eu sou branquelo, mas isso talvez não seja o diferencial,porque muitos garis ali são brancos também. Você tem uma série de fatores que são ainda mais determinantes, como a maneira de falarmos, o modo de a gente olhar ou de posicionar o nosso corpo, a maneira como gesticulamos. Os garis conseguem definir essa diferenças com algumas frases que são simplesmente formidáveis.

Diário – DÊ UM EXEMPLO.
Nós estávamos varrendo e, em determinado momento, comecei a papear com um dos garis. De repente, ele viu um sujeito de 35 ou 40 anos de idade,subindo a rua a pé, muito bem arrumado com uma pastinha de couro na mão. O sujeito passou pela gente e não nos cumprimentou, o que é comum nessas situações. O gari, sem se referir claramente ao homem que acabara de passar, virou-se pra mim e começou a falar: 'É Fernando, quando o sujeito vem andando você logo sabe se o cabra é do dinheiro ou não. Porque peão anda macio, quase não faz barulho. Já o pessoal da outra classe você só ouve o toc-toc dos passos. E quando a gente está esperando o trem logo percebe também: o peão fica todo encolhidinho olhando pra baixo. Eles não. Ficam com olhar só por cima de toda a peãozada, segurando a pastinha na mão'.

Diário – QUANTO TEMPO DEPOIS ELES FALARAM SOBRE ESSA PERCEPÇÃO DE QUE VOCÊ ERA DIFERENTE?
Isso não precisou nem ser comentado, porque os fatos no primeiro dia de trabalho já deixaram muito claro que eles sabiam que eu não era um gari. Fui tratado de uma forma completamente diferente. Os garis são carregados na caçamba da caminhonete junto com as ferramentas. É como se eles fossem ferramentas também. Eles não deixaram eu viajar na caçamba,quiseram que eu fosse na cabine. Tive de insistir muito para poder viajar com eles na caçamba. Chegando no lugar de trabalho, continuaram me tratando diferente.As vassouras eram todas muito velhas. A única vassoura nova já estava reservada para mim. Não me deixaram usar a pá e a enxada, porque era um serviço mais pesado. Eles fizeram questão de que eu trabalhasse só com a vassoura e, mesmo assim, num lugar mais limpinho, e isso tudo foi dando a dimensão de que os garis sabiam que eu não tinha a mesma origem socioeconômica deles.

Diário – QUER DIZER QUE ELES SE DIMINUÍRAM COM A SUA PRESENÇA?
Não foi uma questão de se menosprezar, mas sim de me proteger.

Diário – ELES TESTARAM VOCÊ?
No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena, como se perguntasse:'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.

Diário – O QUE VOCÊ SENTIU NA PELE, TRABALHANDO COMO GARI?
Uma vez, um dos garis me convidou pra almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro acadêmico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar,não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

Diário - E DEPOIS DE OITO ANOS TRABALHANDO COMO GARI? ISSO MUDOU?
Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma idéia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.

Diário – E QUANDO VOCÊ VOLTA PARA CASA, PARA SEU MUNDO REAL?
Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicosocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença burguesa. Esses Homens hoje são meus amigos. Conheço a família deles, freqüento a casa deles nas periferias. Mudei. Nunca deixo de cumprimentar um trabalhador.Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'.


Dedicado ÀQUELES DE DÃO ATENÇÃO ÀS PESSOAS SIMPLES.- Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida!- Educação, esse é o pior problema do nosso país, ...!- A falta de humildade impressiona e isso não acontece somente com garis....

(retirado do http://www.reservaer.com.br/ - Leitura Recomendada)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Retornando ao assunto

Não tinha a intenção de voltar ao assunto mas, depois de ver a publicidade do perfume Chanel 5, tenho que fazer um complemento do post anterior.

Primeiro é importante dizer que os protagonistas deste filme é a elegantíssima Nicole Kidman e Rodrigo Santoro. A cenografia lembra o filme Rouge também estrelado pela ex-senhora Cruiser. É impressionante a qualidade da película, o primor da apresentação. Amei.

Bem, mas uma outra coisa me chamou a atenção. Rodrigo Santoro. Lembrei da imagem dele na novela Pátria Minha, 1994, Rede Globo, como o namorado cabeludo de Alice (Cláudia Abreu). Naquela época ele era um "frangote". Apesar dele não fazer o meu estilo, este comercial me fez pensar seriamente que preciso rever meus conceitos. Che cosa è quella? Bonito. Penso que aquela barbinha rala, meu ponto fraco, lhe deu um charme de Homem . Ou pode ser a influencia italiana que estou sofrendo aqui ... rs

Para entenderem melhor, segue o link do filme. http://www.youtube.com/watch?v=yTO4FHf8MBs

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Então é natal!!!

Nunca comemorei a data. Ok, não sou anormal apenas fui ensinada sobre o verdadeiro sentido do Natal e por isso nunca entrei no clima capitalista que aflora na data. Em minha casa, quando eu era pequena, para que eu não me sentisse em disagio em relação aos presentes de outras crianças, meus pais sempre me compravam um regalo. Como não havia a história de papai-noel, o mimo era escolhido sob minha supervisão, sempre antes do dia 25, e entregue ali mesmo na loja. Afinal de contas, eu não poderia correr o risco de ganhar uma saia ao invés da minha Barbie! Porque, pais são sempre pais e isso significa que a falta de senso já inicia na infância dos filhos. Bem, e se eu não comemoro o Natal, por que estou falando do assunto? Porque eu gosto da decoração natalina e, também, porque aqui na Itália este clima no comércio inicia no primeiro dia de Dezembro. Então vamos por partes. Lembro que no Brasil eu iniciava a desejar boas festas, aos meus clientes, no mês de Novembro. Eu sempre levava um susto quando isso acontecia. Era o alarme interior lembrando que era época de rever o ano. Antes, no mês de Outubro, já era possível encontrar os shoppings com decorações natalinas. Abre parênteses. Nunca entendi esta história de papai-noel com a tradicional roupa de veludo vermelho em nosso natal tropical. Por que num país aonde se usa tão pouca roupa não coloca o velhinho de calção! Fecha parênteses. Voltando para a decoração. A cidade onde eu moro é muito antiga. O centro é um antigo feudo e, antes disto, foi um forte romano. Bem, as características medievais são o charme das pequenas cidades italianas. Pois bem, a prefeitura enfeitou as ruas com luzes. Qual a novidade? Nenhuma. Mas é simplesmente lindo e diferente do que eu via no ES. Vou tirar uma foto e depois coloco no blog para vcs (ops, como sou otimista ao imaginar vários leitores). Com a crise financeira, este ano tem menos luzes que nos anos anteriores.Outra coisa bonita são as vitrinas das lojas. Como aqui neva, sempre tem uma vitrina com os mágicos flocos de gelo.Bem, mas o que tem me chamado a atenção na TV são as propagandas de perfumes que, neste período, simplesmente triplicaram. A TV italiana é fraca em todos os sentidos. As publicidades, ídem. Porém, quando se trata de divulgação de uma fragrância de Dolce&Gabbana, Dior, Cartier e outros, o assunto muda de película, cor e protagonista. Vejam alguns filminhos para vcs terem idéia do que falo.

THE ONE MAN - Dolce&Gabbana (com o merevigloso Matthew McConaughey). http://www.youtube.com/watch?v=X1nfgcTUg7s

THE ONE WOMAN - Dolce&Gabbana (com a poderosa Gisele Bundchen). Detalhe: estou apaixonada por este perfume. Perfeito.http://www.youtube.com/watch?v=HMWofLZ6gH8

Jadore - Dior (com Charlize Theron)http://www.youtube.com/watch?v=Awf_8urofEY


Bem, é isso. Ariverdeci!