segunda-feira, 28 de março de 2011

Para a minha mãe


“A negona está branca e a gurdinha está magra!”. A frase dita por mamãe, antes do embarque, foi apenas para nos fazer rir em meio a tristeza que sentíamos na despedida. Nem parece que já passou um mês. Foi tão bom que não senti falta da net. Para dizer a verdade, adorei ficar um pouco afastada disso tudo. Neste período passeamos muito. A fiz andar tanto em Venezia que ela desistiu de ir a Roma. Prometeu que ficaria para a próxima vez em que virá com o papai. Amou Verona e as minhas amigas Debby e Elisa. Ficou encantada com Treviso. Também achou lindo os paralelepípedos em forma de arcos, as calçadas de mármore, gostou dos horários de ônibus fixados nos pontos e sendo cumpridos pontualmente, do cappuccino, da bruschetta, detestou o caffè espresso, quer continuar comendo como os italianos, aprendeu novas receitas, ficou triste em provar o gelato pois não vai poder tomar no Brasil, impressionou-se com o fato do dinheiro valer por estas partes de cá.

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Reencontrar mamãe foi algo diferente. Já não era mais vista como a filha que deveria ser corrigida. Agora somos amigas. E como tal pude chorar na frente dela, ela conheceu minhas angustias e os desamores, me ouviu, se orgulhou de meus posicionamentos, não me criticou, me incentivou. Também riu muito, gostou dos meus abraços, que foram tantos, e dos beijos. Juntas éramos somente risos. Lembrou-me do segredo de nossa paz e descanso. Orou comigo.

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Tenho orgulho de ser filha dela. Quem a conheceu disse-me: “sua mãe é uma senhora!” que no italiano quer dizer uma pessoa com uma postura admirável e irrepreensível. E quando eu crescer quero ser como ela! Tem apenas um dia que voltou e a saudade já é grande. Eu te amo mãe.

sábado, 26 de março de 2011

Do outro lado do Atlântico

"Minha lindaaaaaaaaaaaa Meu amoooooooooooorrrrrrr Não esqueci 24 de março Dia maravilhoso esse Que o Senhor te abençoe muito Que este dia especial seja obscurecido pelo seu brilho próprio que já é gigante E que sua vida seja repleta de vitórias, alegrias, sucesso e felicidade é o que te desejo bjos bjs bjs bjs bjs e muitooooooooooooooooooooooooooooooooooooos anos de vida" .
Recebi este voto de felicidades no meu aniversário, mas o vi somente hoje. Há dez anos nos prometemos em casamento se eu chegasse aos 34 e ele aos 35, completados um dia depois de mim, solteiros. Caso não tivessemos encontrado ninguém na nossa estrada a quem escolhecemos, ou fossemos escolhidos, seriamos a escolha um do outro. Sao 23 anos sem nos vermos, ao vivo, mas uma amizade que começou na infância e mantemos até hoje. O que vai acontecer no (nosso) futuro eu e ninguém sabemos mas sei que é bom ter pessoas do outro lado do Atlantico que gostam e torcem tanto por mim.

Aliás, agradeço aos que veem aqui no blog e mesmo não deixando comentário me desejam um saco de felicidades, principalmente na ocasião do meu aniverário.

A tutti grazie mille!

quinta-feira, 24 de março de 2011

3.4


Aniversário muito bom. Sem bolo, mas com la mamma e uma tarde maravilhosa em Venezia.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Carta de Março

Ciao Cláudia,

Escrever a carta do mês de Março me vem à nostalgia. Pensando no dia de amanhã, lembrei dos aniversários que me marcaram e cheguei à conclusão que depois dos 30 cada velinha soprada tem sido de forma prazerosa.
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Nos 30 houve a crise, lembra? Não lembrei a data a ninguém no trabalho. Chorei toda a semana e pensei que ia enlouquecer. Mal sabia que dali pra frente tudo seria melhor. Bom mesmo foram os 31 comemorados duas semanas antes de vir pra Itália. Lembra da festa que fiz somente para me despedir das minhas crianças da igreja? O salão decorado como se fosse uma festa de criança com direito a brigadeiros, beijinhos, cajuzinhos e saquinhos de guloseimas como lembrança. Lembra que você ganhou uma Barbie escolhida com todo carinho dentre a coleção da pequena Maria Clara? Os 32 foi bem estilo expatriada, um bolinho e alguns primos. Os 33! Este faz surgir um sorriso no meu rosto ao lembrar dele. Neste eu ganhei um bolo de chocolate acompanhado da expressão “surpresaaaaaaa”. O presente foi em forma de pessoa que eu espero, de todo o coração, que faça parte do seu presente (meu futuro, não é?).
E os 34? Acredito que também será tão bom quanto os demais. Com mamãe e com direito ao um belo almoço em Venezia. Passar o dia com ela, comer uma deliciosa comida num restaurante escolhido num guia despretensioso e depois caminhar pelas vielas e canais da cidade será maravilhoso. Alias este ano ela tem sido o meu presente me dando tanta tranqüilidade.
Outra coisa que lembrei são dos amigos que fazem niver neste mês. Tem a Lu, a Joelma, a Grati, o Marcelo, o Nel, o Flavio, o Toni. Sair do Orkut e Face me faz esquecer os dias exatos, mas lembro de todos os amigos.
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Bem, é isso. Queria apenas recordar de como tem sido bom comemorar os nossos aniversários. Alias você ainda gosta de receber presentes? E para este ano desejo muita felicidade, com o coração em paz e muitas realizações, porque ainda tem muitos lugares para conhecer e um amor para viver.
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Feliz aniversário!

sábado, 12 de março de 2011

Quem está vivo sempre aparece!

A cirurgia foi um sucesso. Apesar da anestesia geral voltei para a casa no mesmo dia. Repouso mesmo fiz por apenas dois dias. No terceiro levei mamãe à Venezia. Queria que ela visse o lugar mas acabou vendo somente gente. Havia tantas pessoas que vou ter que leva-la outra vez para poder dizer "vi Veneza". Tudo por causa do carnaval que deixa a cidade igual ao Rio de Janeiro ou Salvador na mesma época.
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E para mostrar como mãe é um santo remédio, deixo uma foto feita hoje em Verona. Por acaso eu já disse que amo este lugar? Mamma também amou.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Novos sonhos

Foi na noite do dia cinco de agosto do ano passado. Estava inquieta e com uma angústia dentro de mim. Dormir seria difícil. Então vieram as lágrimas, depois o sono e com ele o sonho. Estava no quarto de um hospital. Os raios do sol entravam pelas grandes janelas e tornavam ainda mais claros os lençóis e paredes do lugar. Estava ansiosa com a expectativa de alguém que iria chegar. Veio à enfermeira empurrando um carrinho com um cesto de acrílico. De dentro tirou um pacotinho e entregou nas minhas mãos. Era o meu primeiro momento com a minha filha após o parto. Ela era grande como um bebê de seis meses e não lembrava uma recém nascida. Não a depositei nos meus braços como seria o normal. Segurei-a por debaixo dos bracinhos e a levantei no alto. O seu tamanho foi a primeira coisa que me chamou a atenção. Depois os cabelos que eram muitos a ponto de imaginá-la de “Maria Chiquinha”. Eram cheios de cachinhos no tom castanho escuro. A quantidade me impressionou tanto que pensava “como vou cuidar dos cabelos desta menina?”. Então a abracei e conheci a sensação de ter o mundo nos braços. Observei o contraste da cor do cabelo com a pele branca. A tez clara me lembrou um copo de leite. As sobrancelhas bem feitas não deixavam dúvida de quem era filha. E olhei para os seus olhos e o azul de um céu de uma manhã de primavera olhou para mim. Observei o pequeno nariz e a boca cor de rosa no formato coração. E a minha filha riu para mim. Acordei em paz. Ao abrir os olhos o primeiro pensamento foi “será que foi parto normal?” imaginando o sofrimento que devo ter passado para dar a luz. Naquele final de semana particularmente difícil e triste para mim contei o sonho para minha mãe que me disse “fique tranqüila pois um dia você ainda terá a sua filha”.
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Filhos sempre fizeram parte da minha lista de sonhos e planos. Mas tê-los não depende somente de mim. E o que depende estou fazendo para haver-los. Amanhã estarei me submetendo a um processo cirúrgico para que quando chegar o momento eu possa ter esta Ana Paula Arósio em forma de bebê nos braços. Não sei quando isso irá acontecer mas estou cuidando hoje deste projeto. Então torçam por mim, ok? Quando eu voltar falarei um pouco sobre o sistema público de saúde na Itália.
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Ciao a tutti!