Ultimamente
tenho me confrontado bastante com pessoas que amam ou odeiam a Itália ou o
Brasil. E quando começam a expor o seu ponto de vista, o discurso costuma ser
ácido independente da situação. Geralmente são pessoas que viviam mal no Brasil
e agora vivem o “sonho dourado” da Europa ou, no caso oposto, vivem mal na Itália
e só se recordam das maravilhas tupiniquins.
Eu me
enquadro em qual parte? Naquela que entende que está vivendo outra cultura e
aprendendo. Muitas coisas me parecem estranhas; com outras não sou de acordo ou
acho um absurdo; enquanto que outras me surpreendem.
Vejo muita
arrogância e prepotência nas argumentações dos dois grupos que citei. O filósofo
alemão Johann Goethe disse certa vez que "Muitos são orgulhosos por causa
daquilo que sabem; face ao que não sabem, são arrogantes". Sou de acordo com este pensamento e vejo
que é justamente a ignorância que formenta tantos comentários amargos e contrários
como se aqui ou lá tivesse somente o lado positivo ou negativo.
Duas situações que vivi para ilustrar o que escrevo. Caso
1. Sou amante da boa música brasileira. Apesar do meu inserimento quase tardio
na área tive a oportunidade de descobrir esta arte tão bem representada por nossos
cantores e compositores. Aqui na Itália sempre falei bem do assunto e,
ex-assessora de imprensa na área cultural, sei do que falo (até onde posso). Uma
dessas pessoas que odeiam o Brasil sempre faz um confronto, pois lembra/conhece
somente o lixo indústria fonográfica. Em compensação, para esta, música boa é a
italiana que têm cantores reconhecidos no mundo inteiro como Pavarotti (amo
este generalismo...rs). Então que certa noite, num programa de TV italiana que
faz um concurso para descobrir o novo talento musical infantil, o cantor
Toquinho se apresentou junto com alguns das crianças. Garota de
Ipanema, Aquarela do Brasil e mais outras duas músicas foram cantadas em
italiano. A letra, o cantor e as vozes dos pequenos coroaram a apresentação. Do outro
lado eu ouvi a pessoa dizer: ah, isso sim é música boa do Brasil. No que
respondi: Mas é disso que venho te dizendo este tempo todo! No que me responde:
Mas 80% dos brasileiros só gostam de ouvir porcaria. Goethe tinha razão. Depois
desta, dá para continuar o discurso?
Caso 2.
Dizem que homem é tudo igual, só muda o nome e o endereço. Não sou de acordo
pois entre um homem italiano e um brasileiro existem muitas diferenças. Outro
dia conversava com uma amiga, para quem o Brasil é um pedaço do céu,
sobre uma qualidade do italiano quando este está interessado numa mulher. Fazia
eu o meu discurso e fui interrompida por ela dizendo que eu não conhecia os
homens italianos, que eles são estúpidos com as mulheres, interesseiros etc. Ao
perceber minha face de pasma, me pediu desculpas dizendo: ah, você sabe que sou
apaixonada pelo Brasil, que sempre será melhor para mim, que entre um italiano
eu vou preferir 100 vezes um brasileiro. Não resisti e disse: o que posso dizer
é que você não saber ser racional, é somente passional, pois uma coisa é amar o
Brasil, outra coisa é não conseguir ver qualidades na Itália. O assunto
prosseguiu com ela recolocando a frase.
Acredito
que um dos motivos de viver feliz aqui na Itália, apesar de não estar no
paraíso e passar por muitos perrengues, é que escolhi me inserir na cultura italiana sem esquecer jamais que
sou brasileira e com muito orgulho. Meu olhar é de quem observa e também
critica, mas acima de tudo, de quem aprende. Qual é a graça de viver a vida
achando que sabe tudo? No curso de jornalismo estudamos que uma questão sempre
pode ser vista sobre diversas formas e existe o outro lado, a outra versão. Eu escolhi ver a diferença cultural com
curiosidade de quem quer descobrir o porquê daquilo ser assim ao invés de achar
simplesmente estúpido, feio, ruim ou não. Claro que não dá para ser inocente,
mas isso é em qualquer lugar.
No final,
melhor mesmo é ser um eterno aprendiz da vida. Independente em qual parte do
mundo e da língua que esteja falando.
Para
encerrar o assunto, deixo uma música (claro) O que é o que é que diz o que eu penso e canto
sempre: viver e não ter a vergonha de ser feliz/ Cantar e cantar a beleza de
ser um eterno aprendiz/ Eu sei que a vida poderia ser bem melhor e será/ Mas
isso não impede que eu diga/ Que é bonita, é bonita e é bonita!
Clica no vídeo e
ouça na voz da grande Maria Bethania acompanhada das estupendas Miúcha (salve)
e Nana Caymmi (salve). Letra do mestre Gonzaguinha.