segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Saúde na Itália

Saguão do hospital de Venezia Mestre

Já tinha planejado falar sobre o assunto e sempre prorroguei, agora chegou a hora lembrando apenas que minha descrição é daquilo que eu vivo e estou no norte do país, ou seja, no centro sul pode ser, e é, bem diferente. 
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E então, o sistema de saúde funciona na Bota, ou ao menos numa parte dela? Sim. Cada cidadão tem o seu médico de base a quem deve recorrer para qualquer necessidade. Caso seja necessário um especialista, ele te passa uma guia com a qual você marca a consulta, com o médico de sua escolha, numa central de atendimento quase igual ao antigo INPS. Cada guia, tanto para consultas ou exames, são pagas. Ao marcar uma consulta você não pode faltar pois senão paga do mesmo jeito. Tem o direito de desmarcar com 24h de antecedência. Para ter este atendimento é necessário fazer uma carteirinha (novamente parecidas com as do INPS antigamente) que consta todos os teus dados, inclusive onde mora, mais o nome do seu médico de base.
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Quanto tempo leva para ser atendido. Ai depende da sorte e da gravidade que o seu médico de base observa. Marcar uma visita ao oftalmologista pode durar até um ano. Uma ressonância magnética geral até seis meses. E assim vai.
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Todos os médicos são bons? Não. Profissionais bons e ruins existem em toda parte. Existe a questão cultural que também influencia. Por exemplo, prefiro ginecologista brasileiro. Por quê? Aqui, para saber se uma mulher não é virgem o médico roda quase meio mundo para a pessoa entender o que ele quer. No Brasil a pergunta é direta e sem constrangimento: tem vida sexual ativa? Algo constrangedor é o fato que você tira a roupa atrás de um biombo e sai andando pelada até a cadeira, ou maca, de consulta. Mas por outro lado tem sempre uma enfermeira ao lado do médico. Ela não pode sair de perto dele quando uma paciente estiver sendo tocada.
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Do lado de cá se valoriza muito os benefícios do parto normal a ponto que as mulheres verem com tranquilidade as dores que passarão. Ponto para eles que também investem em cursos públicos para gestantes. 
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E o Pronto Socorro é a ante sala do inferno, como acontece no Brasil? Imagina! É ordenado e limpo. Existe senha para atendimento. Você vai até a recepção, apresenta a tua carteirinha, diz qual o problema e, no entender do grau da gravidade, você recebe uma folha com um código de atendimento. Se a situação for grave, rapidamente é atendido. Se entenderem que você poderia ter  esperado (se for de noite) ou te ido ao medico de base, demora e ainda paga o ticket como se fosse uma consulta particular.Abra parênteses. Aconteceu comigo neste último domingo de madrugada. Sentia uma dor terrível na coluna a ponto de sentir a cirurgia que fiz no início do ano. Para a atendente era nível branco, o menor possível, então eu tive que esperar 1h e ainda pagar €60 pelo atendimento. Alguém pode me explicar como dor é classificada como nível baixo e entender que um paciente pode esperar quase dois dias para poder ir ao médico de base? Fecha parênteses. Os médicos enrolam dentro dos ambulatórios deixando os pacientes esperarem na recepção? Claro, né. Hospital não é anti sala do céu, minha gente. 
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Quando precisei de fazer minha cirurgia, em março, foi necessário fazer um tratamento de ferro na veia além de tomar uma injeção que custava €800. Não paguei um centavo, o governo fez a sua parte. De quando comecei a fazer os exames até o intervento em si, foram quase 3 meses. Quando decidi pela cirurgia, em 45 dias já tinha posto para mim.
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Apesar de ter muitos brasileiros que acham os médicos italianos uns açougueiros, eu procuro olhar de forma diferente. Como eu disse, existem profissionais de todos os tipos em qualquer lugar. Confiei no médico, até porque ele fez uma especialização de 6 meses em Recife, e porque ele sugeriu a cirurgia como solução para um problema de anos e que no Brasil os médicos só aceitavam fazer tratamentos com remédios e nunca resolvia.
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Os quartos são coletivos. Não gosta de dividir com estranhos? Melhor se tratar no Brasil mesmo ou escolher um hospital particular. E nada de acompanhante. Pense num quarto com oito doentes e cada um com uma pessoa para ajudar? Não dá. A única exceção são para os idosos que precisam de ajuda das badantes (profissionais que cuidam de velhinhos).
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Fofoca da área: 1. Ouvi dizer, por parte de alguns enfermeiros, que os hospitais que estão sob direção de freiras são os piores pois as religiosas costumam ser muito más.
2. Quando se faz exame de sangue não se coloca um band-aid discreto. Você sai com o braço enrolado num chumaço de algodão como se fosse para estancar uma hemorragia. Né mole não. Algo quase pré-histórico.
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E vale lembrar, aqui no norte os hospitais são limpos, organizados e, se forem novos, tem a arquitetura que lembra um shopping center. Já no sul, é IGUAL ao Brasil.
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Ciao a tutti!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Um mês


É o que falta para o meu retorno ao Brasil. Quanto tempo isso significa? Um amigo me lembrou da música do Biquíni Cavadão que diz ser o suficiesente para um embrião virar feto, o trabalho para ganhar o salário, para ser campeão da Copa do Mundo ou um dia em Saturno.
Para mim será uma eternidade. Como disse ao meu irmão, este período vai parecer um ano enquanto que os três meses planejados por lá serão como três semanas. Mas é assim para quem escolheu o mundo como casa, e a casa como um lugar de passagem para onde sempre volta.
Deixando a mensagem romântica à parte, finalizo com a música Quanto Tempo Demora Um Mês, Biquini Cavadão.

Baci.






quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O pão nosso de cada dia

Costumo implicar com os italianos dizendo que, na culinária deles, o internacional fica por conta das massas. Faça jogo rápido, pensa num prato típico da Bota à base de carne? Se você não mora, ou nunca morou aqui, não esteve por estas partes e não é fã da culinária italiana, vai ter dificuldade para responder esta simples pergunta. Mas garanto que fora as massas, este povo entende bem do mexer da colher.
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Deixando a implicância de lado, e voltando ao que interessa. Fora o "macarrão", como entendemos nós brasileiros, o que eu mais gosto de massa são os pães. Lembro que quando cheguei aqui fiquei doida porque não achava um similar ao pão francês. Com o tempo, desenvolvendo o meu paladar, descobri que morar perto de uma pasticceria (padaria) seria a minha perdição. Os pães daqui são FENOMENAIS e servidos com todo o respeito num almoço ou jantar. Come-lo no café da manhã é quase uma ofensa. E existem tantas opções que os glutões de plantão (\o/) entram em crise quando é a sua vez de ser atendido. É até difícil de dizer: tem os de grão duro, de grãos, os integrais, os de leite, fora os originados de cada região etc. Mas o sabor! Humm.... juro, como sem precisar de passar nada neles.
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Como as manteigas italianas são ruíns, mamma mia!, quando quero comer com algo passo um pouco que queijo mole. Ultimamente minha paixão é o pão de milho. Nada de essência, minha gente. São os grão mesmo no meio da massa. E o sabor? E a crocância?  Aff! Não é atoa que adotei o bom costume local de comer com   o bendito pão nosso de cada. Claro que no meu caso ele aparece duas vezes, no café e almoço ou janta.
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Segundo minhas pesquisa achei uma matéria que informa: os italianos consomem 3,2 milhões de tonelas de pão ao ano, sendo que 60% deles consomem durante as principais refeições (almoço e/ou janta) e o gasto é de €248 ao ano, por pessoa. Numa família de quatro pessoas o valor vai para €1000. 
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Porém, os pães doces não são comuns por aqui. Sabem aquela cena de padaria brasileira com pão doce simples, com cobertura de coco, de goiabada, com creme, com isso e aquilo mais a Marquesa de Sapucaí por cima? Pois, vai achar aqui não. Até porque, quase como regra geral, bastou ser doce que entra como uma sobremesa. Biscoito aqui é doce, pode? 
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Aí, vai que estamos chegando ao final do ano (isso mesmo, faltam exatos 16 dias para você cumprir o que prometeu no início do ano!) e é época de Panetone. Pronto, reinicia a minha tortura pois a coisa não poderia ser simples, né. A variedade também é enorme. Tem o clássico, os com recheios, os com somente uvas cristalizadas, somente frutas cristalizadas, o tal do Pandoro (seria a massa pura do Panetone), o com amêndoas, o com açúcar cristalizada por cima etc. Sem contar nas especialidades de cada lugar e das padarias. A minha (pois é, já me sinto dona) inventou um com figos e amêndoas. Pronto. Agora a vaca foi para o brejo mesmo. Vou alí saborear minha outra feta desta delícia e encher este corpo com calorias natalinas....rs
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Ps.: Desculpem o sumiço, estava dando um tempo de mim para mim.
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Ciao!