terça-feira, 6 de março de 2012

Em terras brasileiras

                                                       Praia da Costa, Vila Velha.

Sumi e o motivo é mais que justificável: estou curtindo o meu Brasil por alguns meses.
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Voltar é interessante. Agora observo a minha cultura com novos filtros. O que absorvi lá fora influência na minha percepção. Antes de vir, me preparei para o que todos me falavam: o choque do retorno. Para alguns seria difícil pois veria tudo de forma negativa; para outros, o Brasil seria a minha rendição na terra. Preferi fazer  como faço na Europa: ser crítica sem perder a beleza diante dos meus olhos. 
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Estar com a família é ótimo. E isso me faz repensar no conceito casa. Hoje significa o lugar onde vive aqueles que eu amo. Os paparicos são grandes, além das brincadeiras. Fora ter a alegria de ver a minha cachorrinha me reconhecer no primeiro assovio feito ainda do lado de fora de casa.
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Descobri que não gosto de alguns tipos de comida que antes eu amava. Aliás, sinto que não me satisfaz. Mas como é bom entrar na cozinha com cheiro de manga. Comer abacaxi, banana prata, mamão papaya, graviola, carambola e outras frutas é quase um pulo ao paraíso.
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E sentir o carinho dos amigos é algo indescritível. Parece que o tempo para. São abraços e sorrisos que me faltam na vida italiana. Até os que foram morar fora do Brasil, há tantos anos, estão aqui outra vez. E assim eu vou comendo sushi, churrasco, pastel de vento, frango a passarinho acompanhados de sucos naturais. As noites são longas ao som do balanço das ondas do mar.
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E o mar? É o meu analista. Passear pelo calçadão observando a areia dourada, a movimentação, as crianças brincando, o picolé da Ajellso, a deliciosa água de coco são as minhas diversões quando não quero fazer nada e me sentir em paz.
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Muita coisa sendo colocando em dia, resolvendo alguns assuntos importantes. Existe o momento de stresse, quando esqueço que algumas coisas não funcionam como lá fora. Fico com raiva, brigo e vejo que em qualquer lugar há o bom e o ruim.
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O post é um alô simples. Aos poucos escrevo as transformações que tenho observado neste período.
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E, para finalizar, alguém ainda me acompanha?
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Aquele abraço!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Saúde na Itália

Saguão do hospital de Venezia Mestre

Já tinha planejado falar sobre o assunto e sempre prorroguei, agora chegou a hora lembrando apenas que minha descrição é daquilo que eu vivo e estou no norte do país, ou seja, no centro sul pode ser, e é, bem diferente. 
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E então, o sistema de saúde funciona na Bota, ou ao menos numa parte dela? Sim. Cada cidadão tem o seu médico de base a quem deve recorrer para qualquer necessidade. Caso seja necessário um especialista, ele te passa uma guia com a qual você marca a consulta, com o médico de sua escolha, numa central de atendimento quase igual ao antigo INPS. Cada guia, tanto para consultas ou exames, são pagas. Ao marcar uma consulta você não pode faltar pois senão paga do mesmo jeito. Tem o direito de desmarcar com 24h de antecedência. Para ter este atendimento é necessário fazer uma carteirinha (novamente parecidas com as do INPS antigamente) que consta todos os teus dados, inclusive onde mora, mais o nome do seu médico de base.
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Quanto tempo leva para ser atendido. Ai depende da sorte e da gravidade que o seu médico de base observa. Marcar uma visita ao oftalmologista pode durar até um ano. Uma ressonância magnética geral até seis meses. E assim vai.
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Todos os médicos são bons? Não. Profissionais bons e ruins existem em toda parte. Existe a questão cultural que também influencia. Por exemplo, prefiro ginecologista brasileiro. Por quê? Aqui, para saber se uma mulher não é virgem o médico roda quase meio mundo para a pessoa entender o que ele quer. No Brasil a pergunta é direta e sem constrangimento: tem vida sexual ativa? Algo constrangedor é o fato que você tira a roupa atrás de um biombo e sai andando pelada até a cadeira, ou maca, de consulta. Mas por outro lado tem sempre uma enfermeira ao lado do médico. Ela não pode sair de perto dele quando uma paciente estiver sendo tocada.
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Do lado de cá se valoriza muito os benefícios do parto normal a ponto que as mulheres verem com tranquilidade as dores que passarão. Ponto para eles que também investem em cursos públicos para gestantes. 
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E o Pronto Socorro é a ante sala do inferno, como acontece no Brasil? Imagina! É ordenado e limpo. Existe senha para atendimento. Você vai até a recepção, apresenta a tua carteirinha, diz qual o problema e, no entender do grau da gravidade, você recebe uma folha com um código de atendimento. Se a situação for grave, rapidamente é atendido. Se entenderem que você poderia ter  esperado (se for de noite) ou te ido ao medico de base, demora e ainda paga o ticket como se fosse uma consulta particular.Abra parênteses. Aconteceu comigo neste último domingo de madrugada. Sentia uma dor terrível na coluna a ponto de sentir a cirurgia que fiz no início do ano. Para a atendente era nível branco, o menor possível, então eu tive que esperar 1h e ainda pagar €60 pelo atendimento. Alguém pode me explicar como dor é classificada como nível baixo e entender que um paciente pode esperar quase dois dias para poder ir ao médico de base? Fecha parênteses. Os médicos enrolam dentro dos ambulatórios deixando os pacientes esperarem na recepção? Claro, né. Hospital não é anti sala do céu, minha gente. 
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Quando precisei de fazer minha cirurgia, em março, foi necessário fazer um tratamento de ferro na veia além de tomar uma injeção que custava €800. Não paguei um centavo, o governo fez a sua parte. De quando comecei a fazer os exames até o intervento em si, foram quase 3 meses. Quando decidi pela cirurgia, em 45 dias já tinha posto para mim.
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Apesar de ter muitos brasileiros que acham os médicos italianos uns açougueiros, eu procuro olhar de forma diferente. Como eu disse, existem profissionais de todos os tipos em qualquer lugar. Confiei no médico, até porque ele fez uma especialização de 6 meses em Recife, e porque ele sugeriu a cirurgia como solução para um problema de anos e que no Brasil os médicos só aceitavam fazer tratamentos com remédios e nunca resolvia.
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Os quartos são coletivos. Não gosta de dividir com estranhos? Melhor se tratar no Brasil mesmo ou escolher um hospital particular. E nada de acompanhante. Pense num quarto com oito doentes e cada um com uma pessoa para ajudar? Não dá. A única exceção são para os idosos que precisam de ajuda das badantes (profissionais que cuidam de velhinhos).
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Fofoca da área: 1. Ouvi dizer, por parte de alguns enfermeiros, que os hospitais que estão sob direção de freiras são os piores pois as religiosas costumam ser muito más.
2. Quando se faz exame de sangue não se coloca um band-aid discreto. Você sai com o braço enrolado num chumaço de algodão como se fosse para estancar uma hemorragia. Né mole não. Algo quase pré-histórico.
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E vale lembrar, aqui no norte os hospitais são limpos, organizados e, se forem novos, tem a arquitetura que lembra um shopping center. Já no sul, é IGUAL ao Brasil.
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Ciao a tutti!

sábado, 17 de dezembro de 2011

Um mês


É o que falta para o meu retorno ao Brasil. Quanto tempo isso significa? Um amigo me lembrou da música do Biquíni Cavadão que diz ser o suficiesente para um embrião virar feto, o trabalho para ganhar o salário, para ser campeão da Copa do Mundo ou um dia em Saturno.
Para mim será uma eternidade. Como disse ao meu irmão, este período vai parecer um ano enquanto que os três meses planejados por lá serão como três semanas. Mas é assim para quem escolheu o mundo como casa, e a casa como um lugar de passagem para onde sempre volta.
Deixando a mensagem romântica à parte, finalizo com a música Quanto Tempo Demora Um Mês, Biquini Cavadão.

Baci.






quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O pão nosso de cada dia

Costumo implicar com os italianos dizendo que, na culinária deles, o internacional fica por conta das massas. Faça jogo rápido, pensa num prato típico da Bota à base de carne? Se você não mora, ou nunca morou aqui, não esteve por estas partes e não é fã da culinária italiana, vai ter dificuldade para responder esta simples pergunta. Mas garanto que fora as massas, este povo entende bem do mexer da colher.
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Deixando a implicância de lado, e voltando ao que interessa. Fora o "macarrão", como entendemos nós brasileiros, o que eu mais gosto de massa são os pães. Lembro que quando cheguei aqui fiquei doida porque não achava um similar ao pão francês. Com o tempo, desenvolvendo o meu paladar, descobri que morar perto de uma pasticceria (padaria) seria a minha perdição. Os pães daqui são FENOMENAIS e servidos com todo o respeito num almoço ou jantar. Come-lo no café da manhã é quase uma ofensa. E existem tantas opções que os glutões de plantão (\o/) entram em crise quando é a sua vez de ser atendido. É até difícil de dizer: tem os de grão duro, de grãos, os integrais, os de leite, fora os originados de cada região etc. Mas o sabor! Humm.... juro, como sem precisar de passar nada neles.
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Como as manteigas italianas são ruíns, mamma mia!, quando quero comer com algo passo um pouco que queijo mole. Ultimamente minha paixão é o pão de milho. Nada de essência, minha gente. São os grão mesmo no meio da massa. E o sabor? E a crocância?  Aff! Não é atoa que adotei o bom costume local de comer com   o bendito pão nosso de cada. Claro que no meu caso ele aparece duas vezes, no café e almoço ou janta.
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Segundo minhas pesquisa achei uma matéria que informa: os italianos consomem 3,2 milhões de tonelas de pão ao ano, sendo que 60% deles consomem durante as principais refeições (almoço e/ou janta) e o gasto é de €248 ao ano, por pessoa. Numa família de quatro pessoas o valor vai para €1000. 
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Porém, os pães doces não são comuns por aqui. Sabem aquela cena de padaria brasileira com pão doce simples, com cobertura de coco, de goiabada, com creme, com isso e aquilo mais a Marquesa de Sapucaí por cima? Pois, vai achar aqui não. Até porque, quase como regra geral, bastou ser doce que entra como uma sobremesa. Biscoito aqui é doce, pode? 
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Aí, vai que estamos chegando ao final do ano (isso mesmo, faltam exatos 16 dias para você cumprir o que prometeu no início do ano!) e é época de Panetone. Pronto, reinicia a minha tortura pois a coisa não poderia ser simples, né. A variedade também é enorme. Tem o clássico, os com recheios, os com somente uvas cristalizadas, somente frutas cristalizadas, o tal do Pandoro (seria a massa pura do Panetone), o com amêndoas, o com açúcar cristalizada por cima etc. Sem contar nas especialidades de cada lugar e das padarias. A minha (pois é, já me sinto dona) inventou um com figos e amêndoas. Pronto. Agora a vaca foi para o brejo mesmo. Vou alí saborear minha outra feta desta delícia e encher este corpo com calorias natalinas....rs
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Ps.: Desculpem o sumiço, estava dando um tempo de mim para mim.
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Ciao!

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Luto

Ela foi a primeira que acreditou em mim mesmo quando eu ainda não acreditava. Deu-me a primeira oportunidade e quando viu as minhas dificuldades não se importou pois sabia que eu iria longe. Assim se tornou minha tutora, e eu a sua pupila. Ensinou-me a trabalhar as minhas qualidades na assessoria, viu meus potenciais e os apontou para que eu não perdesse o foco. Chamou minha atenção tantas vezes mas nunca faltou uma palavra carinhosa para elogiar uma pauta bem elaborada, o bom resultado de um clipping, a matéria divulgada.

Tinha o orgulho de saber que uma excelente jornalista estava me passando o que sabia. Valorizei cada ensinamento. Sempre me dizia: você ainda fará o seu vôo solo. Quando deixei de ser sua protegida e passei a assinar meus trabalhos, foi a primeira a bater palmas. Quando joguei tudo para o alto para vir para a Itália, lá estava ela com orgulho nos olhos sabendo que era chegado o meu momento de voar. Disse tantas vezes que queria vir me encontar. Não vem mais. A história dela acabou. Continua apenas no coração daqueles que tanto a amaram e admiraram. 

Saudades Mariza Cavalcanti (+19.11.2011).

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Música do dia: Canção da América, por Milton Nascimento



Caro,

Tempos atrás te prometi uma música e creio que chegou o momento. Composta pelo mineiro Milton Nascimento, junto com Fernando Brant, em 1980 (te diz algo?) a letra diz tudo o que podemos dizer neste momento. Aliás, foi você quem me ensinou que para tudo existe uma música.
Obrigada pela força, pela amizade e por ser o belo presente dos 33.

Ti voglio bene!
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Letra: Canção da América


Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração
Assim falava a canção que na América ouvi
Mas quem cantava chorou
Ao ver o seu amigo partir
Mas quem ficou, no pensamento voou
Com seu canto que o outro lembrou
E quem voou, no pensamento ficou
Com a lembrança que o outro cantou
Amigo é coisa para se guardar
No lado esquerdo do peito
Mesmo que o tempo e a distância digam "não"
Mesmo esquecendo a canção
O que importa é ouvir
A voz que vem do coração
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amigo, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Inserimento cultural


Ultimamente tenho me confrontado bastante com pessoas que amam ou odeiam a Itália ou o Brasil. E quando começam a expor o seu ponto de vista, o discurso costuma ser ácido independente da situação. Geralmente são pessoas que viviam mal no Brasil e agora vivem o “sonho dourado” da Europa ou, no caso oposto, vivem mal na Itália e só se recordam das maravilhas tupiniquins. 
Eu me enquadro em qual parte? Naquela que entende que está vivendo outra cultura e aprendendo. Muitas coisas me parecem estranhas; com outras não sou de acordo ou acho um absurdo; enquanto que outras me surpreendem.
Vejo muita arrogância e prepotência nas argumentações dos dois grupos que citei. O filósofo alemão Johann Goethe disse certa vez que "Muitos são orgulhosos por causa daquilo que sabem; face ao que não sabem, são arrogantes". Sou de acordo com este pensamento e vejo que é justamente a ignorância que formenta tantos comentários amargos e contrários como se aqui ou lá tivesse somente o lado positivo ou negativo.
Duas situações que vivi para ilustrar o que escrevo. Caso 1. Sou amante da boa música brasileira. Apesar do meu inserimento quase tardio na área tive a oportunidade de descobrir esta arte tão bem representada por nossos cantores e compositores. Aqui na Itália sempre falei bem do assunto e, ex-assessora de imprensa na área cultural, sei do que falo (até onde posso). Uma dessas pessoas que odeiam o Brasil sempre faz um confronto, pois lembra/conhece somente o lixo indústria fonográfica. Em compensação, para esta, música boa é a italiana que têm cantores reconhecidos no mundo inteiro como Pavarotti (amo este generalismo...rs). Então que certa noite, num programa de TV italiana que faz um concurso para descobrir o novo talento musical infantil, o cantor Toquinho se apresentou junto com alguns das crianças. Garota de Ipanema, Aquarela do Brasil e mais outras duas músicas foram cantadas em italiano. A letra, o cantor e as vozes dos pequenos coroaram a apresentação. Do outro lado eu ouvi a pessoa dizer: ah, isso sim é música boa do Brasil. No que respondi: Mas é disso que venho te dizendo este tempo todo! No que me responde: Mas 80% dos brasileiros só gostam de ouvir porcaria. Goethe tinha razão. Depois desta, dá para continuar o discurso?
Caso 2. Dizem que homem é tudo igual, só muda o nome e o endereço. Não sou de acordo pois entre um homem italiano e um brasileiro existem muitas diferenças. Outro dia conversava com uma amiga, para quem o Brasil é um pedaço do céu, sobre uma qualidade do italiano quando este está interessado numa mulher. Fazia eu o meu discurso e fui interrompida por ela dizendo que eu não conhecia os homens italianos, que eles são estúpidos com as mulheres, interesseiros etc. Ao perceber minha face de pasma, me pediu desculpas dizendo: ah, você sabe que sou apaixonada pelo Brasil, que sempre será melhor para mim, que entre um italiano eu vou preferir 100 vezes um brasileiro. Não resisti e disse: o que posso dizer é que você não saber ser racional, é somente passional, pois uma coisa é amar o Brasil, outra coisa é não conseguir ver qualidades na Itália. O assunto prosseguiu com ela recolocando a frase.
Acredito que um dos motivos de viver feliz aqui na Itália, apesar de não estar no paraíso e passar por muitos perrengues, é que escolhi me inserir na cultura italiana sem esquecer jamais que sou brasileira e com muito orgulho. Meu olhar é de quem observa e também critica, mas acima de tudo, de quem aprende. Qual é a graça de viver a vida achando que sabe tudo? No curso de jornalismo estudamos que uma questão sempre pode ser vista sobre diversas formas e existe o outro lado, a outra versão. Eu escolhi ver a diferença cultural com curiosidade de quem quer descobrir o porquê daquilo ser assim ao invés de achar simplesmente estúpido, feio, ruim ou não. Claro que não dá para ser inocente, mas isso é em qualquer lugar.
No final, melhor mesmo é ser um eterno aprendiz da vida. Independente em qual parte do mundo e da língua que esteja falando.
Para encerrar o assunto, deixo uma música (claro) O que é o que é que diz o que eu penso e canto sempre: viver e não ter a vergonha de ser feliz/ Cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz/ Eu sei que a vida poderia ser bem melhor e será/ Mas isso não impede que eu diga/ Que é bonita, é bonita e é bonita! 
Clica no vídeo e ouça na voz da grande Maria Bethania acompanhada das estupendas Miúcha (salve) e Nana Caymmi (salve). Letra do mestre Gonzaguinha.