quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Carta - 23 de setembro de 2009


Ciao Cláudia!


Já se passou um mês da primeira carta e volto a escrever-te. Eu tinha razão. As últimas férias foram as melhores nestes 32 anos. Nunca uma cidade mexeu tanto com você como Roma. Lembra que perdeu um colar em forma de coração enquanto andava pelas ruas? Quando voltou ao hotel e sentiu falta do acessório, você ficou triste pois gostava muito deste. Para amenizar, resolveu pensar positivo, quase de forma romântica, que era o seu coração que ficava na cidade eterna. É provável que ela tenha se tornado a sua Meca.

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O início do mês de setembro foi particularmente difícil para você. Recebeu a resposta da universidade que não haveria bolsa de estudo para o ano 2010. Foi um momento em que pensou em desistir e voltar para o Brasil. Junto com a insatisfação profissional na Itália, saudades dos livros e de estar junto com pessoas que pensam como você, quase a motivou mudar os projetos e ir em busca de outras oportunidades. Não sei se continua assim mas hoje a sua força para ir avante é uma característica marcante. E foi justamente esta que te fez reiniciar novas buscas para o máster.

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A sua estadia na Itália te fez se redescobrir. Viu que não é preciso ser igual a outras pessoas, que ser você mesma é único e que, com isso, consegue ser muito mais feliz e realizada. Foi justamente na “Bota”, longe das cobranças e das comparações dos outros, que você conseguiu se olhar por dentro, gostar do que viu e encontrar o amor próprio. Ainda o preserva, não é mesmo? Espero que sim. Saiba que a sua opinião é mais importante que a dos outros. Não aceite comparações e nem ser exemplos para os outros além do que lhe é possível. Ser uma referência para os demais foi a sua prisão durante estes anos. Não caia nesta armadilha outra vez.

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Lembra que numa tarde as portas do alçapão de sua vida se abriram de forma brusca? Antes que as fechasse pode ver que aquele “moribundo” ainda continua lá. Hoje eu não sei resolver esta situação. Prefiro fechar a porta e me assegurar que não será aberta. Mas nunca se sabe. O que eu gostaria era de ter coragem para enfrentar esta situação sem medo das conseqüências. Se eu não conseguir, me perdoe. Realmente não foi possível, mas desejo que tu sejas muito mais forte que eu para mudar tudo isso.

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O outono chegou. Da janela vejo que as folhas das árvores começam a cair. A natureza se prepara para descansar mais uma vez. O sol brilha lá fora e tem uma brisa fresca no ar. São tantas árvores a sua volta que parece um bosque. A TV está desligada e tem alguns livros sobre a mesa te esperando. Melhor voltar para eles agora. Seu italiano é como de uma criança de cinco anos. Entende e fala bem mas ainda tem dificuldades na conjugação dos verbos. E isso rende cada pérola que te faz rir de si mesma. Aliás, para finalizar, não se levar a sério foi uma ótima sacada. Parabéns!

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Bacio e arrivederci.

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