Depois de um bom tempo sumida apareci somente para um post com pequenos textos ou recheado de fotos. Quase uma desculpa para não escrever. Na verdade, estava pensando no que escrever e vejo que é hora de falar um pouco daquilo que tira aquele sorriso, do post mais abaixo, do meu rosto.
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Recentemente a Flávia fez um post perguntando se seria possível viver mais trabalhando menos, como foi dito por Penélope Cruz. O texto ficou latejando na minha cabeça pois fala da minha realidade na Itália, do que consegui aqui, mas veio num momento que corro o risco de perder tudo.
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Vivo legalmente no país que, recentemente, mudaram as leis de imigração dificultando, e muito, o renovo do permesso (visto). Antes, eu pensava que se o perdesse estaria tudo ok, afinal, tenho casa no Brasil e poderia voltar a atuar na minha área profissional. Hoje, a possibilidade de retorno me angustia, pois significa abrir mão de uma qualidade de vida que conheci somente aqui.
Antes, eu vivia para trabalhar. Hoje, trabalho para viver. A diferença é enorme entre um e outro.
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No primeiro, eu me sentia culpada pelo dia ter apenas 24h, de precisar dormir, de tirar 15minutos do meu dia para almoçar. Férias de um mês? Uma impossibilidade porque, no retorno, corria o risco de encontrar outra pessoa no meu posto, de forma definitiva. Recordo das terríveis enxaquecas, das passagens súbitas no pronto socorro do hospital devido às terríveis dores musculares. De acordar de madrugada preocupada se o release que enviei sairia naquele dia no jornal ou, se ao chegar no escritório encontraria a resposta da entrevista de determinado artista para enviar aos jornalistas que não podia mais esperar para fechar a página do jornal. Apesar desta loucura, gostava do contato com a redação; de entender como se faz uma matéria jornalística e seus caminhos; de ser, também, uma questionadora e formadora de opinião com o meu trabalho...
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Hoje, nem de longe lembro a assessora de imprensa de antes. Parece que entrei num livro. Coloco os pés na rua e me deparo com monumentos de cinco séculos atrás; ando de bicicleta sem sentir falta de um carro; falo com pessoas de todos os continentes; descubro que uma certeza no Brasil é apenas mais uma possibilidade no Marrocos; passear não significa ir ao Shopping Center; não sinto pressão para ter, ou ser, dentro de um padrão pré estabelecido; viajar é uma constante assim como ir a um museu, teatro, cinema, mostras, restaurante; ler, ao menos, um livro por mês ( o atual é Negros, gays, judeus&CIA – A eterna luta contra o outro, de Gian Antonio Stella). Descobri quais são as guerras que eu tenho que lutar. Nem tudo eu preciso brigar. Alguns momentos é melhor abrir mão e deixar andar. Já em outros é necessário usar todas as armas pois o mérito vai ser somente meu.
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Percebi que mudei minhas prioridades. Meus gostos simplificaram ao mesmo tempo em que estão mais apurados. Marcas, status, apresentações aos poucos foram substituídos por cores, sons, sabores, risos e gentilezas. Ainda não ter comprado um teto não é assim tão angustiante. Afinal, quero conhecer o mundo e ainda não sei onde será este lugar para chamar de meu.
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Aprendi a gostar do silêncio, do som do violino que invade calmamente a minha sala (como acontece neste exato momento) produzido dos ensaios constantes da minha vizinha, de ver a neve caindo ou os botões de rosa nascendo, na primavera, como nunca tinha visto antes, de comer abobrinha e um pouco de pasta e sentir que almocei como rainha, de ver um desconhecido abrir o portão e me dar à preferência para passar...
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E fazendo um flash black de tudo isso me dá uma melancolia somente de pensar em ter que sair deste livro. Porém, ainda sou muito positiva e creio que, no final, tudo vai se resolver. Existem possibilidades, então tenho esperança.
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Por que escolhi falar sobre isso? Porque aprendi a valorizar pequenas conquistas, como as citadas acima, e desejo de ter forças para lutar por manter o que tenho hoje. Seja na Itália, no Brasil ou qualquer parte do mundo.
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Pra finalizar. O post de hoje é para dizer que estou bem mas existem problemas sérios acontecendo. Quem vem aqui e tem o sonho de viver uma experiência internacional, não se iluda. Não existe paraíso, apenas formas diversas de ver a vida. Eu uso óculos mas com lentes coloridas. Entendeu a metáfora?
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Ciao!
2 comentários:
ai ai.... te juro que fecharia esse livro so pra vc nao ter que sair mais daí.. antes eu entraria, claro. Cláudia, seu chute no balde nao foi a toa. As coisas irão se resolver da melhor forma possivel, fé em Deus que sim. Sabe, só pelo que vc reaprendeu a respeito da vida, já é conquista pra vida inteira. Força querida e se precisar de outros óculos, te empresto os meus. Te admiro mais a cada dia. Ainda teremos posts com fotos do mundo inteiro nesse blog. Não duvide disso. Baci e te voglio bene. (o italiano pode estar errado mas a intenção é verdadeira)
Aprender que o verdadeiro valor da vida está nas coisas que não são de valor material, é magnifico.
Acredito eu, que quando lutamos pelo o que queremos, há uma grande chance de dá certo, e no seu caso, já deu certo. Nada é por acaso, tudo tem uma razão de ser. Confie, as coisas vão se resolver pra você.
Bacio grosso
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